À frente de cooperativas de catadores de recicláveis, mulheres em Belém impulsionam ações do Programa Mãos Pro Futuro, em ano de COP 30
Pioneiro em logística reversa no Brasil, programa criado pela ABIHPEC contribui para estruturar ações de destinação de resíduos, com impacto ambiental e social
As principais cooperativas de catadores de materiais recicláveis de Belém do Pará, às vésperas da COP 30, se dedicam a atividades previstas pelo Programa Mãos Pro Futuro, pioneiro em logística reversa setorial no Brasil, que realiza ações de impacto ambiental e social.
Predominantemente conduzidas por mulheres em todo Brasil, as cooperativas de Belém não contrariam a regra: as 3 entidades que participam do Programa Mãos Pro Futuro, Aral, ACCSB e Concaves, têm mulheres ocupando a presidência. “A maioria aprendeu com os pais, iniciando a atividade em lixões”, diz Sarah Ferreira dos Reis, presidente da ARAL.
Aos 45 anos, catadora desde os 12 anos, Sarah conta que se profissionalizou há pouco mais de uma década: “Hoje tenho orgulho da profissão, mas não foi sempre assim. Eu, meus pais e meus irmãos enfrentamos os perigos dos lixões, nem todos sobreviveram. Na minha geração, os catadores são vistos como agentes ambientais, com mais estrutura e dignidade, ajudando as cidades a darem destino aos resíduos. Somos heróis.”
Débora Ribeiro Baia, 32 anos, a mais jovem entre as presidentes, avalia que o momento é histórico, com a forte retomada das atividades para os catadores: “A sociedade está vendo que recolhemos ouro, não lixo. As cooperativas e associações estão organizadas, formalizadas, com maquinário, pagando impostos, com segurança no trabalho, ao contrário do catador individual, que atua com fragilidade e desproteção. Essa mudança de visão, do catador da carrocinha para o catador cooperado, é a mesma que mostra a transformação de um mundo cheio de lixo para um mundo com economia circular e sustentabilidade.” Para ela, o Mãos Pro Futuro identifica uma função importante do catador cooperativado: “Educamos a sociedade para o descarte e disso depende o êxito dos programas de logística reversa e o sucesso de todas as etapas, segregação, compactação e reciclagem.”
A veterana Maria do Socorro dos Santos Ribeiro, presidente da ACCSB, 52 anos, catadora desde os 8, filha mais velha de 9 filhos, conta que foi para os lixões para ajudar a família: “Uma amiga da minha mãe me ensinou a trabalhar no lixão pois levava pra casa o dinheiro no mesmo dia. Quando vieram as cooperativas, ganhamos segurança e dignidade pois nos tornamos parte visível da cadeia produtiva de logística reversa”. Ela, os filhos e o marido trabalham juntos na entidade: “Somos organizados, temos deveres, despesas, metas de performance por material, plástico, vidro, metal e papel.” Para ela o Mãos Pro Futuro é vital: “São as empresas investindo na gente, organizando e promovendo nosso trabalho.”
“Os eventos na cidade precisam de nós, não deixamos nada que pode ser reciclado pra trás, e eles nos ajudam a atingir as metas em tonelagens”, diz Socorro. Ela chama a atenção dos líderes que virão para a COP: “Estamos em Maracangalha, somos avistados por quem chega de avião, estamos no caminho de quem sai do aeroporto. Faço um convite, venham nos visitar, somos o pulmão do mundo, somos Amazônia! Que os olhares sejam menos para criticar mas trazer benefícios, para o povo e para a floresta. Tragam suas bagagens e soluções, para ajudar a construir, com bons pensamentos e ideias, para um mundo e uma floresta melhores. Levem nossa cultura, tragam seus saberes e ânimo para continuarmos cuidando dos mananciais, dando as mãos pro futuro”.
Profissionalização e estruturação das cooperativas
Prestes a completar 2 décadas, em 2026, o programa atua junto às cooperativas para estruturação e profissionalização das entidades, e considera, no eixo social, o impacto na geração de trabalho e melhoria da renda dos catadores. Criado pela ABIHPEC – Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal e Cosméticos, atualmente é executado em parceria com a ABIMAPI – Associação Brasileira das Indústrias de Biscoitos, Massas Alimentícias, Pães e Bolos Industrializados, com a ABIPLA – Associação Brasileira das Indústrias de Produtos de Higiene, Limpeza e Saneantes, e com a ABRAFATI – Associação Brasileira dos Fabricantes de Tintas.
O diretor de desenvolvimento sustentável da ABIHPEC, Fábio Brasiliano, reforça a importância ambiental e social do programa, especialmente na região Norte: “Além do cuidado com o ambiente, estamos contribuindo para o desenvolvimento social. O advento da COP 30 na capital paraense põe foco na região Norte, que apresenta os menores índices de destinação de resíduos do país”. Um levantamento de 2023 apontou que a região destinou 96 mil toneladas de resíduos, enquanto no Sudeste o resultado foi 9 vezes maior: “Atuamos para melhorar o cenário regional, preparando, desde já, a expansão do Mãos Pro Futuro para cooperativas de toda a região Norte do país”.
“As preocupações com a conservação da Amazônia”, continua Brasiliano, “devem incluir a destinação adequada de todos os resíduos, pois plástico, vidro, papel e metal, quando não vão para lixões e aterros, muitas vezes acabam nos leitos dos rios e na floresta”.
“Hoje consideramos a importância da adicionalidade”, diz o diretor, “ou seja, fazer mais do que simplesmente cumprir a lei; o programa apresenta resultados para além da logística reversa, com geração de renda e, em conexão com a agenda climática e o combate ao efeito estufa, estudos em andamento indicam que o Mãos Pro Futuro contribuiu para evitar a emissão de mais de 3 milhões de toneladas de gases de efeito estufa.”
Atividades em Belém
Até junho, haverá 14 eventos de educação e sensibilização ambiental em escolas, condomínios, estabelecimentos comerciais e locais públicos. Serão feitos contatos porta a porta, reuniões, palestras, rodas de conversas, mutirões de busca ativa de resíduos em parques e praças, nos bairros de Pedreira, Marco, Médice e Marambaia. O objetivo é ampliar a interação dos catadores com a população, e levar ao maior número de pessoas informações sobre a importância da coleta seletiva, da logística reversa e da economia circular, a partir da disseminação de conceitos e práticas para o descarte adequado de resíduos. As ações acontecerão nos dias 07, 10, 17, 18 e 25 de abril; 08, 09, 15, 22 e 23 de maio; 05, 13, 20 e 24 de junho.
Na Ilha do Combu, um dos principais destinos turísticos de Belém, em 22 de maio, os catadores farão uma ação junto aos comerciantes, turistas e moradores, em escolas, restaurantes e locais de grande fluxo de pessoas, chamando a atenção para a contribuição da logística reversa e da reciclagem para o turismo sustentável.
Em 23 de abril, haverá o grande evento da campanha de educação ambiental em Belém, com a presença da equipe do Mãos Pro Futuro e autoridades locais. O destaque será o trabalho profissional das cooperativas, que contam com investimentos do Programa Mãos Pro Futuro em equipamentos e infraestrutura, capacitações e assessorias técnicas, entre outras ações estruturantes. O programa acompanha a evolução das cooperativas nos quesitos organização, formalização e produtividade, e estabelece metas de triagem e recuperação de materiais recicláveis.
O Programa Mãos Pro Futuro
Criado em 2006, antes mesmo da PNRS (Política Nacional de Resíduos Sólidos) entrar em vigor, em 2010, o Mãos Pro Futuro é um programa nacional de logística reversa, coordenado pela ABIHPEC – Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos, em parceria com a ABIMAPI – Associação Brasileira das Indústrias de Biscoitos, Massas Alimentícias e Pães e Bolos Industrializados, ABIPLA – Associação Brasileira das Indústrias de Produtos de Higiene, Limpeza e Saneantes, e ABRAFATI – Associação Brasileira dos Fabricantes de Tintas. Com investimentos estruturantes de mais de 150 milhões de reais em organizações de catadores de materiais recicláveis, está presente nas 27 unidades federativas do Brasil, apoiando cerca de 200 organizações, 6 mil profissionais de recicláveis, em 150 municípios. Atua em 30 das 50 cidades mais populosas do país, sendo 31 litorâneas, além de Manaus e Belém. Atende a 14 dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU.
“Os resultados de performance do Programa Mãos Pro Futuro reafirmam a importância do apoio contínuo às cooperativas de catadores, essenciais para a sustentabilidade ambiental do país”, afirma Fábio Brasiliano, Diretor de Desenvolvimento Sustentável da ABIHPEC.
O Programa Mãos Pro Futuro é reconhecido nacional e internacionalmente, destacando-se como o primeiro sistema de logística reversa a superar o encaminhamento para reciclagem de mais de 1 milhão de toneladas de resíduos.
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